2009-07-03

Ainda as In(E)vasões - ARTIGO PUBLICADO NA FOLHA DE MONTEMOR

"Theatron evoca história da cidade

Evocando a passagem das tropas francesas por Montemor, no dia 28 de Julho de 1808, onde sofreram uma emboscada no “Porto de Lisboa”, junto aos Cavaleiros, Carlos Cebola escreveu uma peça intitulada In(e)vasões que gira à volta deste episódio histórico. Era intuito do autor e da associação Theatron estrear esta peça no ano do bicentenário mas tal não foi possível.
Só em Maio do corrente, mais precisamente nos dias 30 e 31, é que o público teve oportunidade de assistir no Cine-Teatro Curvo Semedo, à estreia da peça In(e)vasões, numa encenação de Vítor Guita e de Maria João Crespo.

Narrativa em três dimensões

Carlos Cebola utiliza uma dinâmica narrativa que, ao espectador dá a sensação de estar num plano tridimensional. Temos a narrativa principal que decorre em palco, uma taberna de Montemor de oitocentos. Mas isto não basta ao autor, temos ainda a suspensão dessa narrativa, um corte abrupto com uma digressão ao tempo actual, em que os actores se despojam da personagem que interpretam, reencarnando em “si próprios”, acentuando esta reinterpretação tratando-se uns aos outros pelos seus nomes.
É nesta digressão que o autor aproveita para, em partilha com o público, reflectir sobre o que é o teatro, sobre o que o próprio público pensa do teatro. Nesta dupla evocação, do sentir, do amar a arte do espectáculo por parte de que actua e de que assiste gera-se uma cumplicidade…regressa-se ao passado, à taberna. Mas a narrativa não termina aí, há o exterior da taberna, a acção que decorre para lá das suas paredes, a emboscada protagonizada pelos populares às tropas francesas comandadas por Loison (o maneta).
Depois há questões humanas e éticas, o dilema de quem olha nos olhos do inimigo, e percebe que esse homem odiado nessa condição abstracta, pode afinal ser amado no plano concreto e humano.

Uma encenação brilhante

Vítor Guita e Maria João Crespo, não se limitaram a fazer a ponte entre o texto e os actores. Conhecem bem as margens dessa ponte, falamos do professor e falamos dos homens e mulheres que pisavam o palco. Sabem igualmente onde é este “Porto de Lisboa”, e sabiamente, emotivamente, pegaram nestas letras, nestas pessoas e no seu sentir Montemor para oferecer a todos nós a melhor homenagem que outros de cá já mereciam, pela coragem que tiveram em oferecer o seu sangue e a sua vida há duzentos anos atrás. Certamente gente do nosso sangue, tanto de nós espectadores como daqueles que pisam o palco.

Elenco com grande nível

O elenco não nos surpreendeu. Isto escrito assim parece pouco, mas é muito. Já conhecemos aqueles actores de outras personagens. E estiveram a um nível extraordinário, profissional poder-se-ia dizer, se não os conhecêssemos de outros quotidianos e sabendo que falamos de amadores. Responsáveis, empenhados, foi-lhes exigido o impossível, serem actores deles próprios. Numa fracção de segundo despojarem-se da personagem e encarnarem a pessoa não é certamente fácil, e este grupo coeso conseguiu esse feito, chegou a bom porto.

Ficha Técnica:
Elenco: Ana Paixão, Bia Estróia, Dino Samina, Fatinha Pasadas, Filipe Fernandes, Francisco Águas, Hélder Pais, João Macedo, Maria João Crespo, Rosa Souto Armas, Rúben Costa e Zara Sampaio.
Texto Dramático: Carlos Cebola.
Encenação: Vítor Guita e Maria João Crespo.
Produção: Todinha Santos.
Cenografia: Graça Pires, Hermínia Santos e Sofia Sampaio.
Carpintaria Cenográfica: Adelino Frade.
Figurinos e Adereços: Maria João Crespo e Belinha Coentreiras.
Caracterização: Graça Pires e Sofia Sampaio.
Desenho de luz: Carlos Olivença.
Assistente Técnico de Luz: Manuel Matos.
Som e Vídeo: João Bastos.
Design Gráfico: Graça Pires, Hermínia Santos e Sofia Sampaio.

M. Casa Branca

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Carlos Cebola
Carlos Dinis Tomás Cebola nasceu em Nisa, em 1928. Depois de concluído o Curso Geral dos Liceus, ingressou na Escola do Magistério Primário de Évora. Em 1956, transfere-se para Montemor-o-Novo onde escreve a sua primeira obra “Três tardes, Três Outonos”. Após este êxito, escreveu uma versão da fábula “A Cigarra e a Formiga”.
Na época de 1961/62, foi secretário da direcção do Grupo União Sport.
A convite do Grupo de Teatro da Sociedade Antiga Mocidade, escreveu a peça “O Quinto Mandamento” em 1963 e no ano seguinte a peça “João Cidade”.
Em 1994 aposentou-se, regressando a Montemor, tendo sido em 1996, mandatário de Jorge Sampaio nas Presidenciais/96. Em 1999 escreveu a peça “Tamar”.
Neste ano, a convite de Vítor Guita, escreveu “In (e) vasõs”, que foi representada no Curvo Semedo pelo Theatron, em 30 e 31 de Maio último.
O escritor escreveu ainda os livros “Nisa, a Outra História”, e “Montemor, o Maior”. Colaborou, com trabalhos de poesia e prosa, em jornais como o Correio de Nisa, O Montemorense, Folha de Montemor, e Jornal de Nisa.
Augusto Mesquita"
Agradecemos à Folha de Montemor a cedência do texto

1 comentário:

Anónimo disse...

E as fotos?